Reportagem

Humanizar e personalizar a atividade do gastrenterologista

06 Ago. 2019

“Ao prestamos um serviço nacional único, tentamos com que percebam quem é o gastrenterologista. Por isso, lutamos por humanizar e personalizar a nossa atividade, o que não é fácil. É apaixonante!”. Palavras do Prof. Doutor Rui Tato Marinho sobre o “maior Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do país”, que lidera há pouco mais de um ano e que agora acumula com a presidência da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG).

 

HSM SERVIÇO Gastrenterologia MEDICONEWS 6 copyEntrar no Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria (HSM) do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) é aceder a um mundo. O mundo das onze entidades que inclui órgãos e aparelhos, desde o esófago ao ânus. A quantidade e a diversidade destes órgãos dita a divisão do Serviço por setores e unidades. Assim, a especialidade de Gastrenterologia e a subespecialidade de Hepatologia são sustentadas por valências postas em prática nas seguintes unidades funcionais: Unidade de Cuidados Intensivos de Gastrenterologia e Hepatologia que é Unidade especializada de maior dimensão do País; Unidade de Hepatologia com nove camas; Unidade de Técnicas de Gastrenterologia onde são feitos os exames endoscópicos; Consulta Externa que realiza cerca de 25 mil consultas por ano; Hospital de Dia, uma Unidade que tem um novo e excelente espaço; Equipa de Urgência, que funciona 24 sob 24 horas e está disponível a qualquer pessoa e tem a mais-valia de ter a seção de Pediatria para crianças que engolem objetos, tais como moedas e pilhas; Arquivo e Secretariado. “Asseguramos quase 20 mil horas de urgência por ano e 1700 serviços de urgência. É um serviço que prestamos ao país”, afirma o Prof. Doutor Rui Tato Marinho, que assumiu em abril de 2018 a direção deste Serviço.

TEMOS BONS PROFISSIONAIS, TEMOS BONS APARELHOS, ESTAMOS A FAZER INOVAÇÃO. PRECISAMOS É DE UM ESPAÇO FÍSICO EM CONDIÇÕES, ATÉ PORQUE OS PORTUGUESES ASSIM O MERECEM”

Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria (HSM) do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN)

E se a maior parte das valências já existiam desde a década de 80, o mesmo não se poderá dizer do organigrama que contribuiu para uma organização mais rigorosa das unidades. O hepatologista decidiu também atribuir a coordenação decada unidade a um especialista. “As pessoas diferenciam-se ao longo da vida”, sublinha. “O Serviço tem quatro novos profissionais, no contexto de uma equipa com elementos muito diferenciados. Além disso, estamos a apostar na inovação em vários campos, como seja no estudo de técnicas avançadas de endoscopia (estômago do porco), que tem partes parecidas com o dos humanos. São técnicas avançadas para retirar tumores sem intervenção cirúrgica”, completa. O diretor deste Serviço destaca o novo espaço do Hospital de Dia, que é coordenado pelo Dr. Luís Correia e cuja avaliação é muito satisfatória. “Era um espaço pequeno e agora funciona num local fantástico, dando resposta a situações como o tratamento da doença inflamatória intestinal, e execução de paracenteses”, diz o Prof. Doutor Rui Tato Marinho, avançando que conseguir novas instalações para a Unidade de Técnicas de Gastrenterologia é agora um dos objetivos prioritários.

Segundo o professor, nos últimos anos, houve um crescimento na ordem dos 500%. Por exemplo na Unidade de Técnicas “Há um forte envelhecimento da população e as pessoas têm mais doenças oncológicas. Por outro lado, a nossa especialidade caracteriza-se muito pela inovação tecnológica”, refere e comenta que há outros aspetos por resolver como as instalações e manutenção das mesmas. “Temos bons profissionais, temos bons aparelhos, estamos a fazer inovação. Precisamos é de um espaço físico em condições, até porque os portugueses assim o merecem.” O gastrenterologista chama a atenção para os dados do Economist, que indicam que Portugal é o quinto país do Mundo com maior percentagem de habitantes com mais de 65 anos. “Lidamos com doenças muito impactantes para os portugueses: três doenças no Top Ten da mortalidade (cancro do cólon e reto, cancro do estômago, doenças do fígado); o cancro do aparelho digestivo (esófago, estômago, fígado, pâncreas, cólon e reto) constituem um terço de todos os cancros e 10% da mortalidade global.”

 

Caracterização dos doentes


Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria (HSM) do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN)Pode-se afirmar que os utentes acompanhados neste Serviço são tão heterogéneos quanto o próprio Serviço. “As doenças já por si são muito diferentes e as particularidades mudam consoante o grupo etário dos doentes. Portanto, temos uma população muito diversificada”, menciona o Prof. Doutor Rui Tato Marinho.

Uma das situações mais mortais da urgência médica ocorre quando uma pessoa com cirrose vomita sangue. Acontece quando as varizes rebentam e cerca de um quarto ou quinto morre. Há também doentes muito idosos (4.ª idade) que sofrem hemorragias digestivas, que acabam por complicar bastante. Para além de pessoas mais jovens com doenças inflamatórias, recorrem a este Serviço indivíduos com cirrose, que bebem há muitos anos e começaram a ter complicações por volta dos 57 anos. Uma grande fatia dos doentes com hepatite C tem entre 45 a 50 anos. Para dar resposta a estas e muitas outras situações, vão sendo instituídas valências como a Consulta de Doença Celíaca e, conforme avança o responsável, vai ser criado um grupo de colaboração com África porque Muitos utentes são oriundos dos PALOP.

 

População médica envelhecida


A equipa responsável pelo acompanhamento dos utentes enfrenta problemas com as escalas, segundo o Prof. Doutor Rui Tato Marinho. “Temos uma população médica em que dois terços tem mais de 50 anos, causando alguns problemas na elaboração das escalas”, observa, levantando outra questão: “Temos sido nós a fazer colheita de sangue aos doentes, uma tarefa que devia ser feita por técnicos e que nos tira tempo de contacto humano com o doente.”

“TEMOS UMA POPULAÇÃO MÉDICA EM QUE DOIS TERÇOS TEM MAIS DE 50 ANOS, CAUSANDO ALGUNS PROBLEMAS NA ELABORAÇÃO DAS ESCALAS”

Sublinha a capacidade multifacetada do médico gastrenterologista, que faz urgência, técnicas (ecografias, endoscopias, colonoscopias, fibroscan, etc.), enfermaria, consultas, investigação, participação em congressos, dá aulas. “É uma tarefa, por um lado, dinâmica mas que implica alguma ginástica mental e de disponibilidade, para se conseguir desempenhar as tarefas e não entrar em burnout”, comenta o gastrenterologista que tem a opinião de que os médicos deveriam ter mais formação (e prioritária) nas áreas de inteligência emocional, team building, gestão de conflitos, de tempo, do stress, multitarefas, liderança, entre outros.

APESAR DE ESTAR MAIS ENVOLVIDO DIRETAMENTE COM OS 37 MÉDICOS, O PROF. DOUTOR RUI TATO MARINHO LIDERA UMA EQUIPA DE 150 PROFISSIONAIS DE SAÚDE

HSM SERVIÇO Gastrenterologia MEDICONEWS 10 copyNa verdade, estas formações são essenciais para as pessoas adquirirem certas competências, sobretudo para quem gere equipas. Apesar de estar mais envolvido diretamente com os 37 médicos, o Prof. Doutor Rui Tato Marinho lidera uma equipa de 150 profissionais de saúde. “A enfermagem tem três excelentes chefes de enfermagem e está muito bem organizada. Gerir os médicos é mais difícil, porque traz alguns desafios. Mas, tenho formação em gestão de equipas e também vou apreendendo na prática a lidar com as mais variadas situações”, diz, sentindo que está muito satisfeito.

“O meu grande lema é fazer uma gestão pela positiva, respeitar todas as pessoas, ouvir todos de forma empática, mesmo quem esteja em desacordo com o que se passa, portanto tento lidar com o conflito de maneira restaurativa. Tenho na minha equipa dos melhores médicos do País, pessoas com muita experiência e pessoas novas, todos da mais elevada qualidade. Tento potenciar o que de melhor fazem a nível profissional”, refere e remata: “É uma honra e um prazer servir o Hospital Santa Maria, a Faculdade de Medicina de Lisboa, a minha cidade, o meu país. Todos têm uma imagem de marca excelente, é o que eu sinto.”

 

Quatro perguntas ao Prof. Doutor Rui Tato Marinho


My Gastrenterologia (MG) | É diretor de Serviço desde abril de 2018. Atingiu o limite do seu percurso profissional?

Prof. Doutor Rui Tato Marinho (RTM) | O céu é o limite. Comecei a carreira há 30 anos no Hospital de Santa Maria e lembro-me que quando escolhi já sabia que era um Serviço complicado e de ter comentado com o meu tio, que era diretor de Serviço de Gastrenterologia do Hospital de São João do Porto (Prof. Tomé Ribeiro), que iria para uma ‘selva’ e que não tinha medo. E, de facto, fui fazendo a minha carreira, sem grandes constrangimentos, tentando equilibrar a vida pessoal e profissional, incluindo as sociedades científicas e a forte ligação à comunidade. Sempre quis vir para o HSM, devido à estreita ligação à Faculdade de Medicina no mesmo espaço. Apesar de se estar a falar sempre em crise (A Crise é própria do Homem, dizia Vitorino Nemésio) o trabalho nestas duas instituições permitiram que publicasse dois artigos na maior revista do mundo, The New England Journal of Medicine, e obtivesse a medalha de mérito da Ordem dos Médicos, entre outras atividades muito gratificantes. Apesar da crise, das dificuldades, do desinvestimento, vamos fazendo a nossa carreira, vamos estudando. Algo que fiz, sem grande problema, equilibrando as duas vidas e tenho sido muito feliz. Sou realizado do ponto de vida pessoal e profissional. Tem momentos agridoces, mas gosto da relação humana, de ajudar. Adoro ser médico, é muito gratificante. O Médico tem um capital humano único.

MG | Há algum motivo que explica a dedicação à Hepatologia?

RTM | Circunstância. Tem muito a ver com as pessoas com quem comecei a trabalhar, o Prof. Doutor Carneiro de Moura e o Dr. António Saragoça, muito embora já tivesse o ‘bichinho’ do fígado, em parte devido ao meu tio. Fui fazendo o meu caminho numa área apaixonante, lutei pela Hepatologia, a Associação Portuguesa do Estudo do Fígado ficou independente e mudou de nome quando estive como presidente. Ao longo destes anos, tem sido apaixonante acompanhar a descoberta da vacina para as hepatites A e B, o tratamento da hepatite B, o transplante hepático e a cura da hepatite C. Apesar da crise, a indústria farmacêutica e os governos sempre investiram no nosso Centro e tivemos acesso ao melhor do que se fazia no mundo. Os mais novos que acreditem, pois também acreditei há 30 anos.

MG | Este ano assumiu a presidência da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. Concilia sem dificuldades todas as atividades e projetos em que está envolvido?

RTM | Não ter optado pela clínica privada ajudou imenso a ter mais tempo, portanto faço o que mais gosto apenas no HSM. O trabalho nas sociedades científicas e na OM é igualmente muito gratificante e permite-me contactar com diferentes realidades. Vamos aprendendo a gerir o tempo e as multitarefas. Além disso, continuo a fazer formação em gestão. Tenho também um enorme apoio familiar quer da minha mulher (Luísa Raimundo, endocrinologista no Hospital Garcia de Orta, coordenadora da Endocrinologia do Hospital dos Lusíadas, presidente da Portuguesa de Endocrinologia e Diabetologia Pediátrica – SPEDP), quer dos meus dois filhos que têm já boas carreiras: Margarida Tato Marinho, economista do Banco de Portugal, e João Tato Marinho, jurista europeu, Hitachi, Bruxelas. Agora tenho um neto com um e meio. É importante ter um equilíbrio familiar, não nos podemos dedicar apenas à profissão. Ah!!! e adoro correr, ouvir jazz, ler o Economist, filosofia. Faço parte dos antigos atletas do Benfica em atletismo…

MG | Que expectativas deposita no futuro?

RTM | Fazer do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia um serviço de excelência e prestar os melhores cuidados de saúde, para que os utentes estejam ainda mais satisfeitos. Aliás, de modo a conseguirmos avaliar a satisfação, sugeri ter um livro de elogios. Não havia no Hospital. E as muitas coisas bem feitas que fazemos.

 Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria (HSM) do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN)As vidas que salvamos… Nós prestamos um serviço ao país, sempre com a visão de qualidade, pois temos potencialidade para tal. Todavia, precisamos de alguns melhoramentos, como a gestão integrada dos recursos humanos ou coaching, necessitamos de uma Unidade de Técnicas de Gastrenterologia nova, de tirar algumas tarefas aos médicos (colheita de sangue, por exemplo) e também afirmar o gastrenterologista como um personagem importante no hospital, no meio académico e na sociedade, na medida em que é um médico especialista que desempenha tarefas muito diferenciadas. Por exemplo, um terço dos cancros passa por nós, três das doenças estão no Top10 da mortalidade (cancro do cólon, doenças do fígado e cancro do estômago), temos os dois cancros mais mortais da sociedade (pâncreas e fígado) e acompanhamos doenças que afetam alguns milhões como o intestino irritável, a obstipação e o refluxo. Mas, penso que ao prestamos um serviço nacional único, tentamos com que percebam quem é o gastrenterologista. Por isso, lutamos por humanizar e personalizar a nossa atividade, o que não é fácil. É apaixonante!

 

As caras do serviço


Dr.ª Paula Ferreira

Dr.ª Paula FerreiraO Prof. Doutor Rui Tato Marinho encarregou-me de ser responsável pela reorganização da Consulta Externa do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Santa Maria, que tem à volta de 25 mil consultas por ano. Também estou a coordenar o C Free Team, uma equipa constituída por médicos e enfermeiros que se deslocam aos estabelecimentos prisionais no âmbito dos projetos de micro-eliminação da hepatite C. Ou seja, temos o objetivo de deslocar o hospital à comunidade e tratar estes doentes infetados com o VHC.


Dr. Carlos Freitas

Dr. Carlos Freitas

Sou coordenador da Unidade de Urgência (Interna e de Cuidados Intensivos, Endoscópica). Temos uma escala de urgência com duas pessoas em presença física 24 horas todos os dias do ano, o que implica fazer uma escala entre 30 a 40 pessoas, algo que nem sempre é fácil. Esta é uma das maiores urgências de Gastrenterologia do País, com cerca de 20 mil horas de trabalho. Damos apoio hospitalar aos restantes Serviços do HSM durante os dias da semana e, como somos um centro de referência, recebemos doentes de todo o país, encaminhados pelos diferentes centros hospitalares.


Dr. Rui Palma

Dr. Rui Palma

Coordeno a Unidade de Cuidados Intensivos de Gastrenterologia e Hepatologia. É uma Unidade com cerca de 25 anos e enorme tradição, que é vocacionada para tratar os doentes com patologia gastrenterológica crítica, isto é, com patologia grave com risco de vida. Tem tido várias remodelações e, neste momento, temos uma lotação de cinco camas com possibilidade de abrir uma sexta em situações de emergência. Dispomos de uma equipa própria constituída por quatro médicos seniores e dois internos, bem como enfermagem dedicada 24 horas. Recebemos doentes de todo o país e estrangeiros.


Prof. Doutor Luís Carrilho Ribeiro 

Prof. Doutor Luís Carrilho Ribeiro

A Unidade de Técnicas de Gastrenterologia é uma unidade funcional do Serviço de Gastrenterologia que coordeno desde 2010 e onde são feitos todos os exames da especialidade, totalizando cerca de 25 mil por ano, desde endoscopia digestiva alta a colonoscopia, CPRE, ecoendoscopia, ecografia abdominal, fibroscan, todas as técnicas relacionadas como remoção de pólipos e tratamento endoscópico, entre outros. Temos um enorme movimento: são sete salas a funcionar e um grande staff de médicos, enfermeiros e auxiliares.


Prof.ª Doutora Fátima Serejo

Prof.ª Doutora Helena Cortez-PintoCoordeno a Consulta de Hepatologia de Terapêutica Antivírica. Somos o centro com mais experiência em Portugal e já ultrapassamos o milhar de doentes tratados. Também tratamos pessoas com os novos antivíricos e continuamos a fazê-lo esperando que do ponto de vista de rastreio consigamos fazer com que os doentes percebam que necessitam fazer os seus exames ao fígado, de modo a detetar a presença ou não de infeção, até porque este tipo de infeções, nomeadamente as virais, são assintomáticas. Sendo a prevalência destas infeções cerca de 0,5%, em Portugal, significa que existem 50 mil portadores. E, se em Portugal já foram tratados cerca de 20 mil, precisamos saber onde andam os restantes. Por isso, é importante sensibilizar, por exemplo os médicos de família, para as pessoas fazerem os testes de rastreio das hepatites. Iniciamos esta consulta em 1989, nunca paramos de tratar doentes, tendo já tratado milhares de pessoas com VHB e VHC. Para além da Consulta de Hepatologia de Terapêutica Antivírica, temos a Unidade de Internamento, com 22 camas para a Gastrenterologia, onde recebemos os casos mais complicados. Associada a este serviço, dispomos de uma Unidade de Cuidados Intensivos de topo, que nos vai ajudando a fazer a investigação.


Prof.ª Doutora Helena Cortez-Pinto

Prof.ª Doutora Helena Cortez-Pinto

Coordeno a Unidade de Hepatologia, onde são acompanhados os indivíduos com doenças do fígado. Temos vários protocolos em curso, alguns referentes a ensaios clínicos com medicamentos e outros só de atuação, da forma como cada doente, ao ser internado, deve ser observado e depois seguido. A Unidade tem um corpo permanente (eu, Dr.ª Sofia Carvalhana e Dr. Miguel Moura) e habitualmente recebe estagiários, para se familiarizarem, pois trata-se de uma patologia muito específica. A maior parte dos nossos doentes têm doenças associadas ao álcool ou às hepatites virais, em especial a hepatite C, com evidência de cirrose. Também aparecem casos de cancro do fígado, uma causa frequente de internamento.


O papel da Enfermagem no cuidado dos doentes gastrenterológicos

Enf.ª Dulce FreitasEnfermeira há aproximadamente 30 anos, exerce funções no Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia há 13, sendo há cinco chefe de serviço tendo a seu cargo as enfermarias de Hepatologia (nove camas) e dos Cuidados Intensivos de Gastrenterologia (cinco camas). A Enf.ª Dulce Freitas é responsável por 32 pessoas e comenta que “é um desafio ter a gestão de um Serviço, de recursos humanos e materiais”. Diz também que “o foco é o doente”, pelo que é importante “gerir tudo o que se desenvolve à volta da pessoa, para prestar os cuidados necessários”. Afirma ainda que “é um desafio diário estar neste Serviço”. Nestas duas enfermarias são prestados os cuidados de Enfermagem habituais como o acolhimento do doente quando é admitido pela urgência, pela consulta ou pelo internamento programado. Nesta etapa, o enfermeiro tenta saber informações como os antecedentes, a medicação, a sintomatologia, as queixas e faz uma avaliação global em termos de consciência e estado físico. Passada a fase de acolhimento, é elaborado o plano de cuidados personalizado, para tentar reabilitar o doente e devolvê-lo à sociedade na sua melhor capacidade. Para a Enf.ª Dulce Freitas, o papel do enfermeiro nos cuidados de saúde é fundamental, sobretudo por estar 24 sob 24 horas com o doente. “Cada profissional de saúde tem a sua função, somos uma equipa e temos um objetivo comum: devolver o doente à sociedade, ao seu trabalho, à sua família, com o máximo do seu potencial. Nós, enfermeiros, temos outras funções que se complementam às dos médicos, funcionamos em equipa”, justifica e sublinha que não consegue imaginar cuidados de saúde sem enfermeiros. “Obviamente o médico tem a suja função, como chegar ao diagnóstico e instituir a terapêutica. Ambos os profissionais são importantes e têm funções distintas que se completam.”


“O mundo não vive sem enfermeiros”

Enf.ª Elza SantosA Enf.ª Elza Santos corrobora e comenta que cada elemento da equipa tem a sua função bem definida. “Aquilo que nos compete é cuidarmos do doente e fazermos a ponte, pois somos os profissionais de saúde que mais horas passam com os doentes, pelo que cabe-nos a nós fazer a articulação. Integramos uma equipa em que cada elemento tem as suas funções bem definidas, sendo o papel dos enfermeiros fundamental. Nenhum hospital vivia sem enfermeiros, o mundo não vive sem enfermeiros.” Há 27 anos que é enfermeira do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do HSM. Os primeiros 20 nos Cuidados Intensivos e os últimos sete na Unidade de Gastrenterologia a desempenhar funções de coordenação em substituição da enfermeira chefe. “Os doentes têm particularidades diferentes e pretendemos ter um cuidado de excelência, não desvalorizando a pessoa. Atendendo à sua vulnerabilidade, tentamos prestar um cuidado mais individual possível na perspetiva do doente e da sua família”, comenta a Enf.ª Elza Santos. “A abordagem e postura que temos diverge consoante cada caso, cada pessoa que temos perante nós”, frisa esta enfermeira que considera “um desafio constante” integrar o Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia. É igualmente motivante, pois, nas suas palavras, “tanto a especialidade como a profissão evoluem, pelo que temos de dar resposta às novas atualizações e temos de ter uma formação contínua para dar resposta na excelência dos cuidados”. E, no tocante à formação, observa que “a postura das enfermeiras com maior antiguidade é importante na formação contínua de novos enfermeiros, no decorrer do estágio”.


Números de um ano 

  • 150 profissionais de saúde
  • 37 médicos
  • 59 enfermeiros
  • 35 assistentes operacionais
  • 12 assistentes administrativos
  • 25 mil exames na Unidade de Técnicas de Gastrenterologia
  • 23 mil consultas
  • 1500 doentes internados
  • 10 mil dias de internamento
  • 2200 tratamentos no Hospital de Dia
  • 20 mil horas de urgência
  • 1600 períodos de urgência

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